Era uma vez, quando o homem começava a se comunicar com seus semelhantes por meio da fala, na região da Mesopotâmia viveu um homem. Esse homem era especial ou ao menos se diferenciava dos outros, ele era “mudo”.
Quando pequeno, mais ou menos uns cinco anos de idade, foi abandonado por seus ”pais”. Os mesmos não sabiam o que era a mudez, eles temiam que aquilo fosse contagioso ou algo que pudesse ser transmitido á quem tocasse nele. Tungo, como era chamado, vivia sempre solitário, todos os outros criticavam, zombavam devido a sua diferença.
Por desconhecerem o fato de Tungo ser mudo ele sempre era expulso dos povoados por precaução das pessoas. Ele passou por inúmeros lugares, até seus vinte e três anos viveu sempre migrando de um lugar para outro. Então, agora ele chega em uma região muito diferente das que ele estava acostumado a ser discriminado.
Tungo dormia à céu aberto, sem comida e sozinho.Num dia qualquer como todos os outros, ele saiu à procura de algo para comer, após uma longa caminhada deparou-se com um rio, não muito grande, parou para beber água, quando de repente escutou um barulho vindo do outro lado do rio,como se fossem galhos quebrando.
Após ouvir o ruído, Tungo buscou rapidamente se esconder para ver do que se tratava, ele se abrigou por de trás de alguns arbustos e pés de bananeira . Quando do outro lado do rio surgiu uma linda jovem, a mesma começou a se banhar em meio aos lençóis do rio. Enquanto isso por de trás das bananeiras ele a admirava todo fascinado e cheio de idéias.
Ao tentar se aproximar mais a jovem percebeu, sem saber o que fazer ele virou as costas e antes de pôr-se a correr um homem muito maior e mais forte o barrou, tentou fugir mas era inútil.
O homem que o parou era irmão da moça que se banhava.Tungo foi levado até um lugar muito distante onde estava o restante da família. Os mesmos queriam explicações, mas Tungo não conseguia falar, apenas fazia gestos, mas ninguém o compreendia. Então, revoltados, os pais da moça levaram ele até uma caverna e o trancaram lá. As gerações passadas tinham o costume de trancafiar em cavernas as pessoas que tinham algum distúrbio ou deficiência, por prevenção.
Desanimado, triste e solitário, Tungo passou os três mais longos anos de sua vida preso e tratado como um animal. Até que em um dia ele ouviu fortes sons, tremores,era um vulcão entrando em atividade. Todos fugiram exceto Tungo que não foi atingido pela lava vulcânica, mas estava preso ele agüentou mais duas noites e morreu de fome.
Antes de morrer forrou a parte interna da caverna de sinais e desenhos pouco legíveis. Ele não conseguia falar com a boca mas sim com os sentimentos e a arte.Pintava tudo que sentia, enxergava e pensava. Rabiscos, traços, curvas, animais, homens, árvores, o sol , de tudo um pouco. Fazia esses desenhos e sinais com pedras mais escuras e ainda com seu próprio sangue, pois se feria para poder se expressar nas paredes da caverna. Segundo os historiadores as primeiras formas de escrita e pinturas foram feitas por pessoas, assim como Tungo, nas cavernas com sangue, carvão, pedras e cinzas.
Tempos mais tarde, outras pessoas descobriram a caverna de Tungo e aprimoraram suas expressões. A principal dessas pessoas foi Nilo, também foi um homem muito diferente em relação aos outros, assim como Tungo,esse homem tinha apenas a mão esquerda.Juntamente a seu enteado grafaram as primeiras palavras em pedras e tijolos que podiam ser transportados de um lugar á outro.
Essa escrita primitiva era feita da direita para esquerda com um estilete pressionado sobre um determinado pedaço de pedra. Nilo empurrava o estilete e fazia as curvas e sinais com sua única mão da direita para a esquerda,enquanto seu enteado batia com um martelo sobre o estilete para que pudesse dar origem aos sinais esculpidos.
Os tempos mudaram e anos depois os egípcios se cansaram de bater com martelos e para se desfazer dos “calos” começaram a usar uma nova forma de escrita agora da esquerda para a direita e sobre o papiro. E por volta de 1 500 a.C. criou-se o alfabeto com vinte e duas letras. Os gregos o aperfeiçoaram , criaram as vogais.
Com todos esses avanços surgiram os primeiros livros e estes eram escritos para fins religiosos e comerciais, os livros e seus conteúdos passaram a ser um objeto de dominação perante aqueles que não o detém. Os mesmos começaram a ser publicados como forma de preservar as histórias, as culturas dos povos, ou ainda como forma de expressar o que sentiam ou enxergavam, assim como Tungo.
Ele era discriminado assim como muitos outros pois ele era portador de uma deficiência, por causa disso foi muito diferenciado dos outros. A fim de diminuir essas diferenças o francês Louis Braile (1809-1852) criou um livro para cegos, que é lido com o tato e obteve muito sucesso usado até nos dias de hoje.
Os símbolos feitos por Tungo acabaram por originar o “livro” que é muito útil e encontrado em todos os cantos do mundo, nas mais diversas versões. Dos rabiscos de Tungo na caverna transformou-se em símbolos esculpidos em pedras para o papiro e pergaminhos, ganhou letras, números, desenhos e símbolos, sofreu adaptações até se tornar o que é hoje e agora encaminha-se para uma nova fase evolutiva, quem sabe é o fim do livro. Não exatamente o fim mas talvez saia de “moda”, ou seja, não será tanto usado pois nem todos terão sempre acesso ás novas surpresas de outros “Tungos”, mas sua alma, a literatura ,a expressão viverá eternamente.
O candidato á exercer ou a comandar o próximo mandato evolutivo é o computador e este promete e já esta cumprindo. A velocidade com que uma simples frase atravessa o mundo, através dele, é inexplicável, é questão de segundos. A capacidade de armazenar informações é ilimitada. Realmente o candidato é forte, mas o livro sempre estará por ali para dar uma forcinha quando necessário.
Muitas vezes a má sorte pode ser um grande avanço, como aconteceu com Tungo que foi pego no flagra, preso e morreu de fome, mas, além disso, ele deixou seu propósito num dos maiores passos da humanidade. O passo dado por Tungo era lento, curto, meio desajeitado, mas foi melhorando com o passar do tempo, os passos lentos ficaram para trás. Agora é uma corrida onde Tungo é e sempre será medalha de Ouro.